10.18.2006

Crônica da Vida Moderna

O escritório estava em polvorosa: haviam lançado o melhor, o mais moderno, o mais rápido, o mais esplendoroso programa de informática. O que a gente fazia em mais de uma hora, agora seria feita em apenas um minuto. Todos estavam tão impressionados: “Oh, é a invenção do milênio”, “é o máximo, não?!”. Bem, pra mim, não!

Naquele ambiente eufórico, eu parecia a única calma e nada impressionada com tal lançamento. Mas que merda de programa, hein! Se pelo menos ele fosse me ajudar a sair mais cedo.... Mas não, quanto mais cedo termino o que tenho pra fazer, mais trabalho me dão. Será que ninguém pensou nisso não?

Na época dos meus avós não era assim. E eu não vou botar a culpa no capitalismo, a culpa é mesmo minha, sua, de todo mundo. A gente vive correndo, só não sei pra onde. Às vezes parece que a nossa geração nasceu com uns genes mutantes que deram origem a uma pressa estranha. A gente nasceu com o instinto de pegar sempre o primeiro metrô que estiver chegando, independente de quantas pessoas já estejam nele e quantas ainda estejam para entrar. Nasceu pra decorar a cor do ônibus,e com o tempo pegá-lo, sem mais, nem mesmo, ler o nome. Nasceu pra correr entre os trilhos do trem das cidades grandes. Tanta pressa, pra quê? Pra onde a gente corre tanto?

Eu, sinceramente, não sei. Ninguém deve saber. Sempre vai ter trabalho mesmo. E é sempre tudo igual. Também não sei porque a correria. Os metrôs sempre vão passar no mesmo horários, sempre vão estar com a mesma lotação e sempre vão correr nos mesmos trilhos. A minha casa sempre vai estar lá me esperando. Meus amigos, meus amores; é bem verdade que eu posso perdê-los a qualquer momento, mas a riscos todos nós estamos expostos, não posso viver correndo para vê-los.

Talvez a pressa já seja inerente a condição humana. Talvez isso seja resultado da nossa necessidade de ocupação integral do tempo, ou vice-versa. Talvez você ache essas suposições um tanto malucas, apesar de eu achá-las bem verdadeiras. Mas a grande questão é : pressa, pra onde?

Aí vieram me perguntar o que eu tinha achada do maravilhoso programa. Eu disse: “Ah, legal”. “Só isso? Tá louca, né?”. Eu, louca? Há-há-há. Só rindo mesmo. Eles é que tão comemorando porque vão trabalhar mais, e eu é que estou louca? Oh, céus, esse mundo está perdido mesmo!

10.03.2006

Mon Unique Project



Nem Lolita, nem Anita. Para mim, foi Lenita. Estatura mediana, olhos verdes-mar, cabelos cacheados cor -de- mel, pele branca, quase pálida, e linda, linda!

Aconteceu entre a quarta e quinta década de minha vida e pelos 15 anos dela. Era uma daquelas amiguinhas novas que minha filha arranjava pelo colégio, e me apareceu às duas da tarde de uma terça-feira estressante.

Como um anjo, como uma deusa, como um pecado que desarruma nossos pensamentos, para mim, foi a estrada para a perdição. Com ela me perdi, no tempo, nos sentimentos... Perdi a razão.

Aconteceu, como eu queria que acontecesse desde aquela terça-feira. E foi intenso. E eu já me sentia parte dela. E me apaixonei por aquela linda demônia, que desarranjou minha vida, me tirou os pés do chão, me enlouqueceu.

Ao lado dela o tempo voava; as borboletas eram mais coloridas; o mar era mais agitado; e o mais forte vendaval, parecia uma simples brisa. Ela era o paradoxo mais perfeito que jamais existiu.

Pior que a morte, que o ciúme, foi vê-la nos braços de outro. Era um menino esguio, de 16 ou 17 anos, que a segurava como um troféu. Enquanto eu, a via com meu mais precioso tesouro.

Perdi minha menina. Perdi meu sonho mais amargo e restaram as mais doces lembranças. Nunca lhe cobrei explicação, nem seria preciso. Era óbvio que, um dia, aquela realidade surreal iria chegar ao fim.

E fiquei, com aqueles 15 e poucos anos, dos quais dois me julgo dono, daqueles sonhos infantis.

Mayara Luma Maia