10.03.2007

A gosto de agosto


Este não é um texto sobre ela ou sobre eu e ela. É sobre uma época boa da vida, em que todos éramos heróis.

Por muito tempo me cobrei, achava que precisava escrever sobre ela, sobre a gente, sobre tudo o que foi vivido. Mas não saia. Simplesmente não saia. Tentei várias vezes, mas as palavras fugiam, os verbos não conseguiam ser conjugados e a idéia de que nós, agora, estávamos distantes não era concebida. Então, o tempo passou, o trabalho aumentou, as provas chegaram. A desculpa pra quem não quer viver é sempre o trabalho. Me afoguei num sem fim de trabalho, de estudo, acabei com meu tempo. Tudo para não pensar que agora tomávamos rumos diferentes.

A última festa, à fantasia, para lembrar da época sem noção da nossa vida. A rainha de copas, a bruxa fajuta, o metaleiro delicado, o senhor incrível e a morte. A gente se olhava como se alguma coisa muito séria fosse acontecer. Aconteceu. Nicole, nick, bebichta, nilde, minha bbxa. Se ela soubesse a falta que as noites de sábado fazem, se ela soubesse a falta das risadas gostosas, às 5 da manhã, no supermercado, das festas mais absurdas, do roupão...enfim, dela!

Luz da minha vida, da vida de todos nós. Depois de você, as outras são só as outras. Nossa vida tinha mais sentido juntas. Meu domingão de sol, meu concerto de rock’ roll, você me deixou pensando o que eu faço, agora, da vida sem você? O chopp de vinho parece que esquentou, o café esfriou, os marlboros perderam o sabor. Que saudades, meu eterno esquema.

De longe, ela era a mais concorrida das baladas. A gente não só esquecia de todos os problemas, como ainda se perguntava se algum dia tinha tido algum. Era o inferninho mais inferninho que jamais existiu. Minha chapação! Quem precisa de terapia quando se tem bbxa, todo final de semana, todo dia, 24 horas? Minha mais avançada das terapias! Agora, princesa, eu preciso fazer terapia não pra te esquecer, mas pra aprender a viver longe de você.

Desde que ela se foi, os sábados viraram noites normais, como qualquer outra. Que saudades... das nossas alucinações, dos nossos selinhos divertidos, da época em que Lucy tocava muito alto e as cortinas pareciam véus de noiva. De quando o prédio se incomodava com a nossa presença, do vovô Velho Barreiro, dos puteiros, dos lugares mais absurdos, das inúmeras caipirinhas, das músicas desconhecidas, da grama do Banco do Brasil.

Minha Rainha de Copas, queria voltar no tempo e fechar o rombo que ficou no meu coração, pegar minha varinha de condão e te trazer de volta. Ah, galega, eu tento descrever o que era estar com você, mas acabo não conseguindo dizer. Princesa, todo mundo sabe que eu era melhor com você!


Se a gente foi herói, não foi porque fez coisas admiráveis, e sim porque fez o que queria fazer sem se preocupar com as consequências. Hoje a gente carrega o peso dos erros de quem não tinha medo de tentar. Agora chegou a hora de terminar, as lágrimas já me molham.


Agosto do desgosto. Bbxa, naquele agosto, você me deixou a gosto do desgosto.


Mayara Luma Maia

3 Comments:

Blogger Camila Barbalho said...

É bonito ver como, pra ti, as pessoas viram poesia. Obrigada por mostrar nesse texto o valor das amizades - eu já tava quase esquecendo...

E, apesar de não ter tido todo esse contato, eu sei que ela faz falta. Vai ser sempre-sempre a menina do band-aid, a Janis Joplin dos trópicos e sem Woodstock pra dar um aparato moral.

=D
§=*************

9:42 AM  
Blogger Bernardo e Bianca said...

A sua escrita é apaixonante.

4:04 PM  
Blogger Guto Lobato said...

lindo, amor...

meio lésbico, mas lindo! ahauhauhauhauh
sacanagem...

a bebitcha faz mta falta.. lembro dela toda vez que piso num barzinho =/

je t´aime, petite!

12:26 PM  

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