6.02.2007

Like a Bird

Às vezes a gente esquece do quanto a vida é frágil. Como disse o poeta: são demais os perigos dessa vida para quem tem paixão. Paixão por qualquer alguém, pela mãe, pela amiga, pelo namorado. Uma paixão forte, dessas que ocupa o coração todo e quando se vai leva a nossa vida junto. Hoje, só hoje, me dedico a escrever o que não sei explicar...

Muitas coisas aconteceram, mas o pós, o pós... é hoje, é até hoje, é só hoje...Ás vezes eu lembro e faço questão de esquecer, às vezes eu faço questão de lembrar por medo de esquecer: a gargalhada, as unhas sempre por fazer, os palavrões, a inconstância da constância de não te ter. De tudo, restaram muitas coisas.

...é assim, um eterno não fim, na minha vida, você. Não há ninguém que explique e pouquíssimos que entendam. Daquele dia eu lembro tudo:

Era feriado, ou pré-feriado, sei que não fui para aula. Tava até meio tristonha, nem sei porquê. Na véspera, houve um churrasco, não conseguiram falar com ela. Eu também não fui, era aniversário do meu pai. Uma semana antes eu liguei para ela, tirei dúvidas sobre ligações interurbanas, e como sempre: “ei, vou te ligar depois com mais calma, pra gente conversar..”. Não deu tempo. São demais os perigos dessa vida para quem tem paixão. Mas a vida é nada sem paixão. Quando acabou meu filme, fui para uma insana aula de redação. Voltei. Disse que ia dormir cedo para acordar melhor no outro dia.

Uma e vinte e sete da manhã. Não podia ser verdade. Um tornado de sentimentos estranhos e indesejáveis assolou meu coração. Me tremi por cinco minutos, até conseguir ligar para alguém, que, igualmente, não queria sentir o não sensível, ou talvez, sensível até demais.. O choro não veio. Veio o que meu pai convencionou chamar de choque. “Pega o frontal, dá na boca, ela pode quebrar o copo.” Era involuntário, tudo tremia. O choro não vinha, o que era ainda mais preocupante. De repente, o celular virou um agente funerário. E eu que já não sabia mais o que fazer, só dizia a verdade à quem me ligasse.

O Wlad tava no Jô, o lençol era azul e o cobertor rosa. O pijama nem lembro bem. Essa combinação, nunca mais fiz. Cinco e quarenta e cinco. Ainda havia uma ponta de esperança. Eu vi. Eu vi na pior situação que se pode ver. Aí veio o choro, a dor, a tristeza. Meu coração parou para a dor entrar. Chorei tanto, até acabarem as lágrimas, chorei tudo o que podia, chorei o que não podia. Eu chorei.

De todos, o dia mais triste. Ninguém queria ficar sozinho. Todo mundo sentia a mesma coisa. Uma dor que faz a gente não querer que a noite chegue, pra não ter que dormir e quando dorme, não quer que o dia chegue pra não ter que acordar. É quando o céu vai embora e a terra é tirada dos nossos pés. Eu fiquei perdida, recitando Molin Rouge com amigas que eu tinha cultivado a vida inteira, temerosa de que elas, também, me fossem tiradas.

Três dias depois, a rotina. Na aula, com a pior feição, com o olhar mais triste de todos, as pessoas pareciam olhar com compaixão, com pena. Mas eu, imponente como sempre, decidi que ia passar, como, na avenida, um samba popular.

Não foi uma semana, não foi um mês, nem dois. Muito menos meia-dúzia. A dor cedeu lugar para a saudade. As conseqüências foram longe demais. Os traumas. E de novo, a saudade. Sempre a saudade. O vazio foi pertencido pela saudade. Essa ausência da presença que te guardou no meu peito.Tudo tem limite, a minha dor, nunca teve. Eu suporto, não aceito nem entendo. Só hoje eu suporto não te ter. Só hoje, sabendo que enquanto eu respirar vou me lembrar de você. Só enquanto eu respirar.