6.05.2008

esse barco, que descreve um arco




Eu gosto de observar meninos e meninas que carregam nas costas seus quinze e jovens anos. Não, não tenho tendência à pedofilia nem nada do tipo, eles me atraem simplesmente por me fazerem lembrar dos meus tempos idos. Dos tempos em que ir para o colégio era a maior e mais amarga obrigação, mas que era adocicada com a certeza de que, aos sábados, alguma festinha badalada com muito docinho ia eternizar nossos sorrisos nos álbuns de quinze anos.

Nossos sorrisos. Esse leve sorriso inocente e mais que verdadeiro. Dessa época tão maravilhosa que não dura mais que cinco anos. Do início da adolescência – nossos doze anos mais ou menos – até chegar o vestibular, quando a gente descobre que nem tudo, nem sempre, será cor-de-rosa. Essa idade, que apesar da sutileza, é marcada por dilúvios de lágrimas, por intermináveis dores-de-cotovelo, por laços eternos de amizade. Essa também é a idade da insegurança, da falta de consciência política, de cagar e andar para as crianças famintas da África e ser feliz, do uniforme sujo no fim do dia e, acima de tudo, de começar a perder o medo de cometer pequenas saudáveis loucuras.

Lembrar dessa fase, pra mim, é se aventurar novamente pelos caminhos incertos da descoberta da vida. Meus quinze e jovens anos foram completamente irregulares, malucos, cômicos e, sim, com episódios bastante trágicos. E foi esse apanhado de situações que me fez a pessoa que sou hoje. Boa e ruim, reservada e não, atenciosa quase sempre; e segura, muito segura. Uma segurança que só quem viveu o que eu vivi pode ter.

Meus felizes dias. Minhas irresponsáveis tocadas de campainha na casa de estranho. Minhas barulhentas corridas para fugir. Minhas intermináveis músicas nas horas mais impróprias. Meus ditados populares que envolviam uns palavrões bem cabeludos. Meus churrascos. Minha sauna queimada. Minhas promessas de casamento à la Julia Roberts e Richard Gere. Minhas desilusões amorosas. Meus sofrimentos. Minhas traições. Meus inúmeros colégios. E as inúmeras pessoas que eu conheci. Meus sinceros e eternos amigos. Meus não tão sinceros e nem tão eternos amigos. Meus nem um pouco eternos inimigos. Meus pequenos fragmentos de vida juntos nessa coisa tão sensitiva chamada memória.

Eu vivi tudo o que havia para viver. E não tinha noção do quão importante essas pequeninas situações seriam para mim. Essa leveza dos doces e jovens anos que, de tão leve, o tempo já me levou.

É, é verdade que hoje eu posso muitas coisas que com quinze anos não podia. É verdade que hoje eu tenho o meu dinheiro e a segurança para ser dona do meu nariz. Mas todas essas coisas de hoje não fizeram falta nos meus jovens anos, e nem fariam caso me fosse dada a chance de vivê-los novamente. E simplesmente porque elas não eram necessárias naqueles tempos gostosos.

Ser adolescente é mais fácil que crescer.

Essas são só algumas pequenas memórias de uma existência nem tão pequena assim.