7.15.2007

Pequenos fragmentos de alguém

Logo na entrada, um mensageiro dos ventos. A passagem pela porta guarda uma infinidade de subjetividades: roupas penduradas, estrelas cintilantes no teto, um som, mais de um som, um rádio, dois mp3 players, fotos, um quê de música, Beatles... De tudo um pouco. Um quê de cada um que visita. A eterna bagunça, que antes era mascarada pelo “esse final de semana eu arrumo”. Com o tempo passou a ser “nas férias eu arrumo”, e depois foi aceito de tal forma que o pandemônio passou a ser desculpado por “é assim mesmo e não vai mudar”.

No banheiro, fragrâncias de um jardim. De algum lugar perdido. Cremes e sabonetes de uma frescura ímpar. Mas não se engane, ainda há calcinha pelo chão, toalhas enroladas e a terrível mania de esquecer a pasta de dente aberta. Um som, que já quebrou mil vezes por pegar respingos do banho. Sempre um tapete no chão, e agora, com as luzes todas queimadas.

Uma bicicleta que nunca foi usada. Dvd’s espalhados. Uma gaveta de CD. Um armário de bolsas, agora, arrumado. A mesa do computador, que abriga tudo: trabalhos a serem digitados, releases já enviados, livros e CD’s. A estante de livro revela alguém que ama ler. Os livros de história, tão úteis no vestibular, permanecem, mostrando alguém que se apaixona pelos caminhos já traçados. Agora, um ventilador, para salvar as tardes quentes insuportáveis. Um ar condicionado, que só é ligado à noite, porque gasta energia e energia consome água e água, um dia, apesar do aquecimento global, pode faltar. Alguém que não quer ter filhos se o mundo continuar esquentando assim.

As comunidades virtuais denunciam muita coisa: a cervejinha do final de semana, o estilo louco de vida, a guerra contra o preconceito e contra a guerra travada contra as drogas. Igualdade, palavra chave. Mulheres independentes, é uma. Queimada viva na fogueira por acreditar que a solução para a miséria é a legalização das drogas, do aborto e a educação. Se a mãe tem o direito de escolher enquanto o feto não pode viver fora dela, então poderia ser abortada, mesmo já sendo uma mulher. Demorou a se dar conta, mas não consegue viver longe da mãe. Mãe, mãezinha, pra quem não sabe dizer não, que de tão diferente, ficou tão parecida. E fica imaginando, quando for embora para a cidade dos sonhos, porque também de lá não sabe viver fora, quem vai cuidar e quebrar os galhos e brigar até acabar a voz?

Mudou muito convivendo com os animais. Se sensibiliza agora com muitas coisas, e agradece por isso, se sente humana. Apesar de achar que a raça humana não é digna dela, às vezes preferia ser um animal. O melhor professor foi um cachorro, de quem nunca vai esquecer.

Tão individual e tão coletiva. Compra briga fácil se for por justiça. Não tem medo e nunca teve de mostrar a cara, e às vezes leva porrada por isso. Não é dessas que aceita, briga quando acha que alguma coisa está errada. Mesmo que seja a única a brigar. Às vezes é mãe, responsável e competente. Às vezes é filha levada, inconseqüente. Mas é assim porque é livre, dona de si mesma. As raízes pertencem não a um lugar, e sim a uma vida. A casa, o lar, é aqui mesmo, é aí, é em qualquer lugar propício a se tornar um lar. Se acostuma fácil, e se desacostuma também. Há quem diga que é fria, outros que é queeente! Na verdade, é uma só, uma sua, que abriga várias outras. Outras que sentem, e por isso, choram, riem, gritam, gozam. Vive porque a “vida é um sopro”, que de piscar em piscar, de repente, vira hipótese.