12.29.2008

She'll turn the music on you



Não dá mais pra continuar assim. Ou eu tenho um blog e me esforço para mantê-lo ou desisto de uma vez dessa bosta. Optei por continuar, por isso, hoje, vou fazer um esforço enorme para fazer alguma coisa criativa sair aqui.

A verdade é que fiz esse blog no início da faculdade, antes do trabalho enfadonho e da rotina cansativa acabar com toda a minha criatividade e vontade de escrever crônicas. Hoje eu sou mais uma dessas mulheres cotidianas, que odeiam seus empregos, mas precisam deles para manter seus delírios de consumo (isso é um livro da Becky Bloom, eu sei, minha situação é triste demais!). Hoje eu sou mais uma dessas mulheres que usa calça e blusa de botão durante a semana e aos sábados e domingos usa vestidos ridículos como uma forma de se deixar respirar.

A grande verdade é que, cedo ou tarde, todo mundo cresce.

Incrível como passei a achar ridículo escrever sobre sentimentos. Acho que é isso que anda me deixando tão travada, o que fez com que abandonasse completamente este espaço. Tudo o que escrevo soa emotivo demais e meio piegas. Credo! Mas não é estranho que isto esteja acontecendo, afinal de contas, se trata de mim, Mayara, aquela que possui o semblante mais sóbrio de todos.

Só existia uma época em que eu demonstrava sentimentos demais, quando tinha TPM, que agora nem tenho mais. TPM é coisa de adolescente malcriada, que quer atenção. Meu anticoncepcional acabou com tudo isto. Coitado dos homens que tiveram que me aturar naquela época. Hoje eu vivo como que numa linha reta. Às vezes é como se eu não sentisse nada mesmo.

Antes, eu conseguia escrever sobre qualquer coisa. Hoje, nada me dá a inspiração necessária para fazer uma crônica. Isso é horrível, é angustiante, é a pior coisa do mundo... Meu deus, agora eu sei, eu sou uma farsa! Durou só uma temporada minha criatividade para este blog. E eu, ingênua, me deixei acreditar que poderia escrever pelo resto da vida coisas bonitas. Acabou, meu deus, acabou...

Ou pode ser o contrário. Talvez eu esteja numa fase difícil, mas que vai passar. Neste caso, eu preciso esperar. E vou fazê-lo, com a estranha sensação de esperança nostálgica que ouvir Bette Davis Eyes me dá. Voltar aos anos 80 me faz acreditar que vou nascer de novo, toda nova, bonita de novo, tudo novo, de novo.

“All the boys think she's a spy,
She's got Bette Davis eyes...”

11.01.2008

Como me anda me faltando vontade para escrever aqui, vou postar um texto antigo sobre educação.



Sobre a fúria capitalista, Marx e a construção de robôs
O descaso com a educação justifica o destino de um país que vive sempre à espera de um futuro melhor

A falência do sistema educacional brasileiro já não é novidade para ninguém. Não só as escolas públicas sofrem desse mal, também as particulares precisam se submeter à exigências antiquadas e o pior: ministrar conteúdo de forma mecânica para alunos interessados em apenas passar de ano ou obter aprovação na difícil prova do vestibular. Padecendo por motivos diversos, as escolas brasileiras se arrastam em modelos há muito superados pelos países desenvolvidos, e aí que entram em debate as escolas presentes nos acampamentos dos Sem-Terra.
Com modelos de ensino totalmente diferentes, os professores ensinam já na educação infantil o pensamento de Marx, o modelo norte-americano de economia, o tão sonhado modelo socialista, a vida de Che Guevara. As aulas acontecem em qualquer lugar propício do acampamento: em baixo da copa de árvores, em tendas montadas com lona; e são adaptadas à realidade de cada espaço. Não há copa, nem cozinheiras, o lanche é plantado e colhido pelos alunos. Parece perfeito, mas não é.
A grande maioria dessas instituições de ensino são reconhecidas pelo governo e recebem investimentos das secretarias de educação, que também são responsáveis pelo pagamento dos salários dos professores e, logicamente, pelo "controle de qualidade". No entanto, essas escolas, que contam com 150 mil alunos espalhados pelo Brasil, não obedecem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação e, não raro, empregam professores que nem chegaram ao ensino médio. As secretarias de educação usam a frágil desculpa de que é quase impossível fiscalizar todas as escolas; enquanto que os Sem-Terra alegam que precisam de educadores interessados no modelo de vida e no futuro do movimento.
Os Sem -Terrinha, como são chamados os alunos, defendem ferrenhamente suas escolas, acreditam que o sistema utilizado é muito melhor que das escolas urbanas e ainda relatam experiências de preconceito com professores e alunos de fora do acampamento. No início, é impossível pensar de forma contrária, com crianças de cinco anos que dissertam sobre Marx e explicam a ALCA. Mas com o conhecimento maior desse sistema educacional, é possível perceber as inúmeras falhas, a mais grave: parcialidade.
As crianças aprendem em canções e gritos de guerra que burgueses não prestam, que alimentos transgênicos têm veneno, que com o "R" e o "A" do alfabeto se escreve Reforma Agrária, e, se reclamam do preconceito sofrido nas grandes cidades, é porque não tem noção do preconceito que nutrem dos burgueses. Os educadores atuantes nessas escolas cometem um erro gravíssimo, criam robôs a serviço da revolução que talvez nunca ocorra. Os alunos não têm consciência, eles apenas repetem o que é dito todos os dias e concordam com tudo porque não conhecem o outro lado. Mas quem dera esse problema fosse só das escolas do MST.
Nas cidades grandes, em escolas públicas ou particulares, desde a infância, os alunos são bombardeados de conteúdo, precisam cumprir o programa exigido por lei em tempo hábil. Chegam à adolescência manipulados pela televisão, com sonhos de consumo próprios da sociedade estadunidense. Os mais abastados se trancam em cursinhos preparatórios para o vestibular, enquanto que os desfavorecidos abandonam a escola por um emprego de garçom ou secretária. Os vestibulandos se acham muito inteligentes porque conhecem história brasileira e sabem falar corretamente o português. Os jovens trabalhadores se lamentam do destino e sonham em ser um "burguês". O que ambos não sabem é que chegaram a essa idade sem saber quase nada: conhecem diferentes pensamentos, todos os motivos da II Guerra Mundial, mas não conseguem dissertar ou defender nenhum. São também robôs a serviço de nada.
As escolas urbanas usam o frágil argumento de que não há tempo para incentivar debates, de que os alunos precisam conhecer o programa a ser cobrado no vestibular, aquele exigido pela Lei, que atividades paralelas são desenvolvidas para ajudar na formação de cidadãos, mas não conseguem precisar exatamente quais. As escolas do MST usam o frágil argumento de que precisam formar cidadãos dispostos a lutar pelo movimento, pela justiça social. E o MEC, usa de todos os argumentos para justificar os inúmeros erros de um sistema falido.
Revolução mesmo precisa o sistema educacional brasileiro, mas isso levaria muito tempo para governos interessados sempre em medidas paliativas. Se não tem jeito, resta mesmo é aderir às políticas de redução de danos e acreditar que, se a escola pública regular não consegue chegar ao acampamento do MST, que permaneça, então, aquela que pode oferecer alguma educação; e se as escolas urbanas, por falta de interesse, pouco tempo ou necessidade capitalista, não formam cidadãos, que possam, pelo menos, preparar futuros universitários.

9.04.2008

eu sei que preciso atualizar isso, mas tenham um pouquinho de calma!

6.05.2008

esse barco, que descreve um arco




Eu gosto de observar meninos e meninas que carregam nas costas seus quinze e jovens anos. Não, não tenho tendência à pedofilia nem nada do tipo, eles me atraem simplesmente por me fazerem lembrar dos meus tempos idos. Dos tempos em que ir para o colégio era a maior e mais amarga obrigação, mas que era adocicada com a certeza de que, aos sábados, alguma festinha badalada com muito docinho ia eternizar nossos sorrisos nos álbuns de quinze anos.

Nossos sorrisos. Esse leve sorriso inocente e mais que verdadeiro. Dessa época tão maravilhosa que não dura mais que cinco anos. Do início da adolescência – nossos doze anos mais ou menos – até chegar o vestibular, quando a gente descobre que nem tudo, nem sempre, será cor-de-rosa. Essa idade, que apesar da sutileza, é marcada por dilúvios de lágrimas, por intermináveis dores-de-cotovelo, por laços eternos de amizade. Essa também é a idade da insegurança, da falta de consciência política, de cagar e andar para as crianças famintas da África e ser feliz, do uniforme sujo no fim do dia e, acima de tudo, de começar a perder o medo de cometer pequenas saudáveis loucuras.

Lembrar dessa fase, pra mim, é se aventurar novamente pelos caminhos incertos da descoberta da vida. Meus quinze e jovens anos foram completamente irregulares, malucos, cômicos e, sim, com episódios bastante trágicos. E foi esse apanhado de situações que me fez a pessoa que sou hoje. Boa e ruim, reservada e não, atenciosa quase sempre; e segura, muito segura. Uma segurança que só quem viveu o que eu vivi pode ter.

Meus felizes dias. Minhas irresponsáveis tocadas de campainha na casa de estranho. Minhas barulhentas corridas para fugir. Minhas intermináveis músicas nas horas mais impróprias. Meus ditados populares que envolviam uns palavrões bem cabeludos. Meus churrascos. Minha sauna queimada. Minhas promessas de casamento à la Julia Roberts e Richard Gere. Minhas desilusões amorosas. Meus sofrimentos. Minhas traições. Meus inúmeros colégios. E as inúmeras pessoas que eu conheci. Meus sinceros e eternos amigos. Meus não tão sinceros e nem tão eternos amigos. Meus nem um pouco eternos inimigos. Meus pequenos fragmentos de vida juntos nessa coisa tão sensitiva chamada memória.

Eu vivi tudo o que havia para viver. E não tinha noção do quão importante essas pequeninas situações seriam para mim. Essa leveza dos doces e jovens anos que, de tão leve, o tempo já me levou.

É, é verdade que hoje eu posso muitas coisas que com quinze anos não podia. É verdade que hoje eu tenho o meu dinheiro e a segurança para ser dona do meu nariz. Mas todas essas coisas de hoje não fizeram falta nos meus jovens anos, e nem fariam caso me fosse dada a chance de vivê-los novamente. E simplesmente porque elas não eram necessárias naqueles tempos gostosos.

Ser adolescente é mais fácil que crescer.

Essas são só algumas pequenas memórias de uma existência nem tão pequena assim.

2.14.2008

Quantas crianças você vê pela rua do momento em que acorda até o que vai dormir? Quantas vezes você ouve por dia: "tio, dá uma moedinha?" ou qualquer outra variação nesse estilo, das mais dramáticas às mais absurdas: "tenho 12 irmãos, tá todo mundo com fome"; "tenho 12 anos e 12 filhos"; "minha mãe morreu e agora eu tô sozinho". Pare para pensar em quantas vezes você ouve isso? Nem sabe. Quem se importa, né? Ah, fala a verdade, você nem se importa com as crianças que batem no vidro do carro.

"É a tal da compreensão sócio-econômica chegando ao fim", alguém importante disse isso. E graças a deus! Que compreensão ridícula, que te faz (fazia) entender esse afogamento do progresso social. Agora, que já assumimos que somos cegos por opção, convido você para uma experiência.

Imagine acordar, ir pra varanda e não se deparar com nenhuma visão indigesta de crianças miseráveis. Imagine passear pelo comércio e não ver o futuro da nação jogado em bueiros fétidos. Imagine não ler no jornal que uma menina de 15 anos ficou presa numa cela com 20 homens. Imagine não ter que brigar quando aqueles pivetinhos chegam para limpar o pára-brisas do seu carro. Imagine sua cidade sem pichação. Imagine as ruas sem prostitutas e travestis. Isso é uma sociedade anos luz à frente da nossa, onde o aborto é entendido como uma necessidade social.

Aí, já devem estar me colocando viva na fogueira por acreditar que o aborto é a solução para tudo. Não, não é diretamente. Mas comece a pensar nas conseqüências. Com menos criança nascendo nas áreas de risco, mais dinheiro vai sobrar pras que já estão nascidas. Com menos criança crescendo, mais dinheiro vai sobrar para ser investido nas escolas. Com menos criança estudando e com mais dinheiro de investimento, a qualidade da educação vai melhorar. Com a qualidade da educação melhorando, menos jovens vão seguir a vida do crime. Com menos jovens seguindo a vida do crime e alimentando sonhos, menos filhos eles terão. E os poucos que terão, têm grandes chances de nascer em famílias estruturadas e com condição de vida, pelo menos, razoável.

E se você me disser que com o aborto só ia sobrar mais dinheiro para os políticos roubarem, eu ainda tenho uma resposta: com certeza, mesmo sem investimento nenhum, vão ter menos criança vivendo em situação de risco. Não existe crime contra a vida se a vida não existe. Mas existe, sim, crime contra a vida, quando é tomado de alguém o direito de ser feliz.

Achou pesado, não? Então vamos pensar na vida daqueles que perderam a oportunidade de ser abortados.

Uma história brasileira

Madalena tinha Aids, mas só descobriu com o nascimento do sexto filho, fraco e prematuro. Ao longo dos três meses que passou na incubadora, Madalena foi visitar o filho umas três vezes, é que ela esquecia, dava preguiça, sei lá.

Quando finalmente foi para casa, o bebezinho foi batizado de James Jackson pela avó, que encasquetou que ele era filho de um famoso cliente da filha, um alemão de cabelos claros.

Madalena nasceu em uma família de famosas prostitutas decadentes. A mãe e a tia eram índias fugidas para o Rio de Janeiro, onde viraram putas no calçadão. Moravam no mesmo barracão de um cômodo com os seus 22 filhos ao todo, que nem pareciam irmãos ou primos, de tão diferente que eram. Toda essa filharada vivia ao deus-dará, como comentavam os riquinhos que os viam pelas ruas. Assim, não foi difícil pegar o caminho errado. Aos 30 anos, Madalena não sabia onde estava a metade de seus filhos.

Madalena começou a se prostituir aos 14 anos, quando suas irmãs sumiram e a ela teve que sustentar a mãe que já estava com a "buceta foló", como costumava dizer. Nenhum de seus seis filhos teve infância, freqüentou escola ou conheceu o lazer.

Num sábado à noite, cansada de espancar os filhos por alguma trivialidade, Madalena deitou silenciosa na rede que herdara de sua mãe e morreu, manchada com o sangue milagrosamente saudável dos filhos. James, então, ficou órfão aos 10 anos. Resolveu, na sua cabeça infantil, mudar de vida, tentou ir para São Paulo. E foi buscando uma carona da beira da estrada, que ele conheceu o mundo. Chegou ao seu destino final depois de ser estuprado várias vezes pelo caminhoneiro velho e gordo.

Em São Paulo, se acotovelava com inúmeras crianças nas esquinas da Faria Lima para pedir esmolas, mas percebeu que o negócio não estava rentável. Seguiu o conselho de alguns amigos e foi se prostituir no Anhangabaú. Não era fácil, a polícia viviam em cima, foi detido várias vezes e encaminhado para orfanatos. Fugiu de todos, alguém acostumado a ser livre não podia, de repente, ter suas asas cortadas.

Os anos se passaram e ele conheceu uma garota, lá no Anhangabaú mesmo. Eles se apaixonaram, decidiram mudar de vida, trabalhar, casar e ter filhos. Aquela vida desregrada iria ficar para trás! Mas ela engravidou aos 15 anos e, por ser prostituta, ficava difícil saber quem era o pai. O aborto foi um fracasso e ela acabou por aumentar o índice de mulheres que morrem no Brasil por conseqüência de abortos ilegais.

James perdeu o chão de vez. Subiu o morro, começou a roubar, conheceu traficantes. Aos 18 anos, já tinha cheirado mais pó que a mãe durante a vida inteira. Felizmente não conseguiu assaltar nenhum banco. Na sua festa de admissão na maior gangue do país, morreu como Elis Regina, que sua mãe tanto gostava de ver na tevê.

James Jackson agora está enterrado, bem longe das nossas bolsas e do cú dos nossos filhos. Sua vida acabou assim como começou: silenciosa, esquecida e sofrida.

Achou a história mais pesada ainda, né?

Olhe a sua volta, ela pode estar sendo vivida por qualquer uma dessas crianças que passam todo dia por você, que você não olha, mas que olham para você.


"Aborto é uma questão de direitos humanos, saúde pública e justiça social"

1.14.2008

Eu não compro vidas pelas metade do preço


Como jornalista eu aprendi um monte de coisa. Diria até que seria outra pessoa se tivesse escolhido outra área pra trabalhar. E com certeza essa outra pessoa não faria as interpretações malucas que eu faço da realidade, até porque ela não teria esse maldito olhar jornalístico treinado para ver o diferente, o “fato-bombástico”, ou nem tão bombástico assim. Enfim, chega de condicionais passados que o assunto não tem nada a ver com ser ou não ser um comunicólogo. Até porque, venhamos e convenhamos, eu, comunicóloga, tá complicado!

Vou me reportar ao último dia 31. Último dia do ano, o balneário lotado, com todas aquelas pessoas que vivem cinco dias por ano, os do carnaval, e eu. Eu. Com nojo de praia, sol e tudo o que remete a esse verão filho duma puta que faz no Brasil. Bem, tinha tudo, menos água. Foi um quase-fracasso: quase a ceia não sai, quase eu não tomo banho, quase eu não escovo o dente, quase a terra completa seu ciclo comigo na cama, dormindo. Quase. Onze e meia, de pijama: “Vamos pra praia!”. E como toda boa farofa brasileira, lá fomos nós, com champagne e taças de plástico na mão.

Nem roupa branca eu tinha. E lá fui eu com uma multicolorida, que pedia amor, esperança, paixão, paz, sexo, dinheiro, saúde. Encontrei um espaçinho num banco e resolvi sentar, mas logo na frente de quem? Da realidade que só um jornalista ou humanitário vê na noite de reveillon. Uma criança, de 10 ou 11 anos, sentada no meio fim, amassando garrafas de metal pra vender por uma mixaria.

Aí, alcancei um nível de abstração tal, que já não nem ouvia o que falavam perto de mim. De alguma maneira, aquela criança me tocou. Tocou alguma coisa que me fez acreditar que tava tudo muito errado. É bem verdade que eu nunca gostei de reveillon, mas aquela cena me fez pensar quão ridículo nós somos. Novo ano, tempo de renovar as esperanças, de prometer mudanças e de esquecer tudo isso no dia seguinte, quando o porre passa. É uma pena que tudo do brasileiro se acabe na quarta-feira.

No vai e vem da calçada, com meu olhar fixo interrompido pelas pernas brancas que passavam, com a minha vida fluindo no ar com as (des)esperanças daquele menino, alguém me bateu na cabeça: “Alô, meia-noite, 2008!!”. E eu que já não sou muito de fazer promessa, meu único pensamento de ano-novo foi “fazer o bem, sem olhar a quem”. E essa eu vou cumprir. Sabe por quê? Porque eu não quero que as crias das crias das minhas crias encontrem um mundo com vidas quase vividas.

10.03.2007

A gosto de agosto


Este não é um texto sobre ela ou sobre eu e ela. É sobre uma época boa da vida, em que todos éramos heróis.

Por muito tempo me cobrei, achava que precisava escrever sobre ela, sobre a gente, sobre tudo o que foi vivido. Mas não saia. Simplesmente não saia. Tentei várias vezes, mas as palavras fugiam, os verbos não conseguiam ser conjugados e a idéia de que nós, agora, estávamos distantes não era concebida. Então, o tempo passou, o trabalho aumentou, as provas chegaram. A desculpa pra quem não quer viver é sempre o trabalho. Me afoguei num sem fim de trabalho, de estudo, acabei com meu tempo. Tudo para não pensar que agora tomávamos rumos diferentes.

A última festa, à fantasia, para lembrar da época sem noção da nossa vida. A rainha de copas, a bruxa fajuta, o metaleiro delicado, o senhor incrível e a morte. A gente se olhava como se alguma coisa muito séria fosse acontecer. Aconteceu. Nicole, nick, bebichta, nilde, minha bbxa. Se ela soubesse a falta que as noites de sábado fazem, se ela soubesse a falta das risadas gostosas, às 5 da manhã, no supermercado, das festas mais absurdas, do roupão...enfim, dela!

Luz da minha vida, da vida de todos nós. Depois de você, as outras são só as outras. Nossa vida tinha mais sentido juntas. Meu domingão de sol, meu concerto de rock’ roll, você me deixou pensando o que eu faço, agora, da vida sem você? O chopp de vinho parece que esquentou, o café esfriou, os marlboros perderam o sabor. Que saudades, meu eterno esquema.

De longe, ela era a mais concorrida das baladas. A gente não só esquecia de todos os problemas, como ainda se perguntava se algum dia tinha tido algum. Era o inferninho mais inferninho que jamais existiu. Minha chapação! Quem precisa de terapia quando se tem bbxa, todo final de semana, todo dia, 24 horas? Minha mais avançada das terapias! Agora, princesa, eu preciso fazer terapia não pra te esquecer, mas pra aprender a viver longe de você.

Desde que ela se foi, os sábados viraram noites normais, como qualquer outra. Que saudades... das nossas alucinações, dos nossos selinhos divertidos, da época em que Lucy tocava muito alto e as cortinas pareciam véus de noiva. De quando o prédio se incomodava com a nossa presença, do vovô Velho Barreiro, dos puteiros, dos lugares mais absurdos, das inúmeras caipirinhas, das músicas desconhecidas, da grama do Banco do Brasil.

Minha Rainha de Copas, queria voltar no tempo e fechar o rombo que ficou no meu coração, pegar minha varinha de condão e te trazer de volta. Ah, galega, eu tento descrever o que era estar com você, mas acabo não conseguindo dizer. Princesa, todo mundo sabe que eu era melhor com você!


Se a gente foi herói, não foi porque fez coisas admiráveis, e sim porque fez o que queria fazer sem se preocupar com as consequências. Hoje a gente carrega o peso dos erros de quem não tinha medo de tentar. Agora chegou a hora de terminar, as lágrimas já me molham.


Agosto do desgosto. Bbxa, naquele agosto, você me deixou a gosto do desgosto.


Mayara Luma Maia